A recente decisão do Conselho Federal de Medicina (CFM) de barrar o uso de bloqueadores hormonais para menores de idade provocou uma onda de indignação entre as famílias de crianças e adolescentes trans em todo o Brasil. Em São Paulo, Chloe Stanley, uma menina trans de 12 anos, virou o foco dessa polêmica. Com um histórico bravamente trilhado pela mãe, Tatiane Stanley, para garantir que Chloe pudesse viver conforme sua identidade de gênero, a nova regulamentação parece um golpe devastador. A família, agora, vê os planos cuidadosamente formulados para iniciar o tratamento essencial ao bem-estar da jovem desmoronarem. Desde fevereiro, possuindo a guarda unilateral, eles aguardavam ansiosamente o início do bloqueio hormonal aprovado judicialmente, que estava agendado para agosto. No entanto, a resolução do CFM, efetivada em abril, lançou uma sombra sobre essa esperança.
Tatiane, a mãe de Chloe, expressou sua frustração em entrevistas dadas à Agência Brasil. "Fomos surpreendidos por essa proibição totalmente arbitrária do CFM. Ela desconsidera anos de avanços e lutas pelos direitos fundamentais dos nossos filhos. Chloe, ao saber da notícia, ficou devastada. É um retrocesso e uma mensagem clara de que o Estado não está disposto a proteger nossas crianças", desabafa Tatiane. Para Tatiane, a preocupação vai além da identidade de gênero de Chloe. A mãe teme que, sem o tratamento, Chloe entre na puberdade convencional e desenvolva características masculinas indesejadas, o que agrava sua disforia.
A decisão do CFM acontece em um contexto onde há uma crescente discussão internacional sobre os cuidados médicos às crianças e adolescentes trans. Diversos países revisaram suas políticas de saúde nesse aspecto, incluindo o Reino Unido, Finlândia e Suécia, que limitam o uso de tais terapias antes da maioridade. Entretanto, a experiência vivida por crianças como Chloe e sua família coloca em cheque a eficácia e empatia dessa abordagem.
Na cidade de Florianópolis, Diogo Leal compartilha experiências similares. Sua filha, também uma menina trans de apenas 9 anos, está caminhando para a puberdade. Eles acreditam que o bloqueio hormonal seria crucial para prevenir características masculinas, como o crescimento de pelos faciais, que contradizem a identidade de V, sua filha. Para eles, a terapia representa não apenas a aceitação da identidade de V, mas também uma proteção vital contra uma sociedade ainda marcada por profundos preconceitos contra a população trans.
Diogo reflete: "Para muitos de nós, pais, o bloqueio hormonal não é apenas um procedimento médico. É uma linha de defesa contra a depressão e o alto índice de suicídios que vitima a juventude trans no Brasil. Essa medida do CFM, de certa forma, nega a existência e o direito desses jovens de serem reconhecidos e apoiados como realmente são." Neste embate, a estratégia parece clara para os pais como Diogo e Tatiane: lutar pelos direitos dos seus filhos, garantir que suas vozes sejam ouvidas e que suas necessidades recebam a devida atenção.
O CFM, por outro lado, reforça sua decisão alegando a necessidade de maior precaução frente aos riscos associados ao uso de hormônios em menores. Em coletiva, o presidente do conselho, José Hiran Gallo, enfatizou que a medida tem o aval unânime dos conselheiros e responde à evolução das evidências científicas, que sugerem efeitos adversos potenciais. Enquanto isso, o Ministério Público Federal iniciou um procedimento para investigar a legitimidade dessa resolução.
As associações de defesa dos direitos trans, como a Associação Mães pela Diversidade, também estão em campo, acionando o MPF e debatendo formas de questionar a aplicação dessa política de saúde que julgam excludente e prejudicial. Para muitos, esse é um chamado à ação em defesa da dignidade e direitos das crianças trans, sob o lema de "saúde para todos".
O cenário provocou debates nacionais e internacionais, atraindo atenção para questões mais amplas sobre identidade, autonomia pessoal e os direitos de crianças e adolescentes. Enfrentando um futuro incerto, famílias como as de Chloe e V esperam que a voz das emoções, a compaixão e o entendimento prevaleçam sobre a frieza das convenções. Como sociedade, este é um momento crítico para refletir sobre como tratamos nossas crianças e que tipo de futuro queremos para elas. "Que possamos olhar para nossos filhos e dizer: lutamos por um mundo melhor para vocês, onde possam ser felizes, saudáveis e respeitados," conclui Tatiane.
Agora, resta aos pais, ativistas e comunidades unirem forças na determinação de que, apesar das dificuldades, o amor e a igualdade prevalecerão.
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