O Mito do Café Brasileiro: Será que os Melhores Grãos Vão Todos para o Exterior?

Você já se perguntou por que os cafés especiais parecem tão difíceis de encontrar no Brasil? Com o recente aumento das tarifas americanas sobre produtos brasileiros, surgiu a pergunta: será que o café bom que o Brasil produz é todo exportado? Vamos explorar essa questão e esclarecer um mito que persiste há décadas.
Nos anos 1980, o Brasil vivia sob a sombra de uma economia controlada, onde a qualidade do café não era uma prioridade para o governo. De acordo com Sérgio Parreiras, pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), naquela época, o café vendido no Brasil muitas vezes era misturado com cevada e milho, depreciando sua qualidade. O governo estipulava os preços, o que não incentivava a busca por grãos melhores. Consequentemente, os produtores preferiam exportar os melhores grãos, já que o mercado externo pagava mais do que o governo brasileiro.
A virada nesse cenário começou em 1989, quando o governo passou a fiscalização da qualidade do café para a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic). Preocupada com a diminuição do consumo de café no país, a Abic iniciou uma rigorosa campanha de certificação da pureza dos cafés, lançando o famoso Selo de Pureza. Isso foi acompanhado por uma campanha publicitária memorável estrelada por Tarcísio Meira. Essas mudanças não só aumentaram o consumo interno como também elevaram os padrões de qualidade para os cafés destinados ao mercado doméstico.
Nos anos 1990, os produtores brasileiros começaram a investir no mercado interno e na produção de grãos de alta qualidade. A fundação da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) marcou o início de uma nova era para os cafés premium no Brasil. De acordo com Vinicius Estrela, diretor-executivo da BSCA, houve um aumento consistente no consumo interno de cafés especiais desde então, passando de 1% em 2015 para 15% nos dias atuais. Enquanto uma parte significativa da produção especial ainda é exportada para mercados mais ricos, o Brasil tem cultivado um gosto mais apurado por cafés de qualidade.
A narrativa de que o Brasil só exporta café de alta qualidade está desatualizada. Com o aumento da fiscalização e a melhoria nas práticas de produção, o consumidor brasileiro passou a ter acesso a cafés de ótima qualidade. Em 2023, o governo reforçou essa tendência ao instituir novas normas que limitam a presença de impurezas no café torrado, consolidando o compromisso com a qualidade.
Atualmente, o Brasil não só compete globalmente com cafés premiados, mas também educa seu mercado interno sobre as qualidades e variedades do café. A ABIC e outras entidades do setor têm promovido conferências e feiras que destacam as particularidades dos grãos brasileiros, mostrando que o país tem terroirs diversos que produzem sabores únicos e inconfundíveis.
Embora o café especial ainda seja um produto de luxo em mercados como Europa, EUA, Japão e Coreia do Sul, o futuro aponta para um consumo maior dentro do próprio Brasil. A crescente preferência do consumidor brasileiro por cafés finos e a busca por produtos com o Selo de Pureza é um indicativo desse caminho. Estima-se que o consumo interno desses grãos de qualidade só tende a aumentar, à medida que os brasileiros se tornam mais exigentes e apreciadores das sutilezas do verdadeiro café.
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