Vendas de Dólares pelo Banco Central da Argentina Atingem Recorde em Meio à Crise Cambial

A crise financeira na Argentina se intensificou nesta sexta-feira (19), com o Banco Central do país realizando sua maior venda diária de dólares em quase seis anos. Em uma tentativa desesperada de manter o valor do peso argentino, o banco liquidou US$ 678 milhões, somando um total de US$ 1,1 bilhão em três dias. Essa intervenção agressiva visa combater a crescente demanda por dólares, alimentada pela instabilidade política e dúvidas sobre o futuro econômico do país. O contexto desta venda recorde se dá num momento em que o peso argentino continua a sofrer com pressões intensas, atingindo mínimas históricas no mercado. O Ministro da Economia, Luis Caputo, destacou a determinação do governo em usar até mesmo os últimos dólares das reservas do Banco Central para estabilizar a moeda. Essa medida é vista como uma resposta ao ceticismo dos investidores, especialmente com as eleições de meio de mandato se aproximando em outubro, o que ameaça o suporte legislativo crucial para o presidente Javier Milei. Apesar das intervenções do Banco Central, o peso manteve-se em 1,475 por dólar no mercado oficial, enquanto no mercado paralelo caiu para 1,520 por dólar, refletindo uma queda de mais de 6% na semana. O cenário econômico é agravado pela incerteza política e pela recente derrota de Milei nas legislativas de Buenos Aires. As intervenções recentes simbolizam a primeira ação do Banco Central desde abril, quando um acordo de US$ 20 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI) relaxou as restrições cambiais. Os analistas veem essa intervenção como um sinal da gravidade da situação, considerando que a rápida perda de reservas — cerca de US$ 10 bilhões antes das eleições, correspondendo a 70% dos fundos já recebidos do FMI — poderia forçar uma renúncia ao atual esquema de bandas cambiais. Ainda que as reservas internacionais totais do Banco Central sejam de aproximadamente US$ 39,26 bilhões, estima-se que apenas US$ 6 bilhões estão disponíveis para novas intervenções, o que aumenta a preocupação com a estabilidade financeira do país. Especialistas advertem que a contínua venda de dólares não apenas ameaça esgotar as reservas, mas também compromete a capacidade do país de honrar pagamentos de dívidas de curto prazo. O governo, por sua vez, continua a insistir na estrutura atual da taxa de câmbio, assegurando que está empenhado em garantir os pagamentos da dívida. No entanto, o mercado permanece cético, refletindo uma desconfiança crescente, evidenciada pelo risco-país, agora no nível mais alto desde agosto de 2024, atingindo cerca de 1.500 pontos-base. As eleições de outubro são cruciais para a Argentina, pois a nação luta para recuperar a confiança dos investidores e estabilizar sua economia volátil. O resultado destas eleições não só determinará a composição futura do Congresso, mas também influenciará a trajetória econômica do país em um momento crítico.